No séc. III DC as instituições republicanas de cariz aristocrático revelam-se inadequadas para administrar o imenso território do Império Romano. O Senado mostra-se incapaz de controlar os chefes do poderoso exército. É articulado o poder progressivamente mais autocrático do imperador com uma cada vez maior autonomia provincial e esvaziada a influências das instituições republicanas, incluindo o Senado.
Entre o processo de regionalização e o período de anarquia militar existe uma enorme disputa de poder que conduz a uma nova conceção imperial instituída por Diocleciano (284-304 d. C.): a tetrarquia, com dois imperadores Augustos governando o império do ocidente e do oriente e dois imperadores auxiliares Césares a quem o poder seria transmitido ao fim de 20 anos. Os imperadores passam a residir em locais diferentes e Roma é abandonada como capital imperial.
Diocleciano promove uma importante reforma fiscal, agravando pesadamente os impostos, mas as suas tentativas de congelamento da economia para conter a inflação acabam por não ser bem-sucedidas. Na qualidade de chefe supremo dos cultos e de forma a agradar ao poder militar, incentiva o culto dos deuses antigos e promove a perseguição aos cristãos que tinham, sobretudo, influência entre a classe média de proprietários e comerciantes ricos das cidades helenísticas, interessados em cultivar o rigor moral e a solidariedade coletiva. Foi a era dos mártires, entre os quais S. Vicente de Saragoça ou de Fora e, em Lisboa, Santa Justa e S. Máximo.
Natural de Huesca, Vicente foi diácono em Saragoça. Segundo a hagiografia cristã foi morto em 22 de Fevereiro de 304 por ordem do governador Daciano em Valência, contando a lenda que terá sido defendido por corvos, dos animais ferozes a quem o corpo tinha sido lançado. O santo terá ficado sepultado numa basílica em Valência.
Constantino (306-337 d. C.) viria a adotar os símbolos cristãos em 317. O Cristianismo torna-se a religião oficial do Império Romano em 380.
No séc. V dá-se a penetração em massa dos povos germânicos na Península (409), sobretudo Vândalos e Suevos e, mais tarde (470) dos Visigodos. O último imperador romano morre em 476 d. C. No séc. VI os Visigodos conseguem unificar a península (585 d. C.).
A partir de 672 o reino Visigótico entra numa lenta decadência até ao seu colapso em 711, durante as lutas de sucessão entre Rodrigo e Áquila. Os apoiantes deste último negoceiam em Ceuta a intervenção dos Muçulmanos. Derrotado o rei Rodrigo em Guadalete em 711 pelo berbere Tariq ben Ziyad, a península fica definitivamente ocupada em 714, tendo a maioria das cidades capitulado, assegurando no entanto a sua autonomia religiosa e económica. Para a fulgurante rapidez com que os Árabes e Berberes conquistaram o império Visigótico, contribuiu a feudalização do Estado visigótico baseada numa falta de solidariedade dos senhores feudais entre si e sua completa independência face ao rei de Toledo.
Para evitar que caísse em mãos muçulmanas, o corpo do mártir S. Vicente terá sido raptado de Valência por moçárabes em 711, tendo sido transportado por mar para local desconhecido. Existem várias versões quanto a este destino: Bári, em Itália; Castres, no sul de França; ou, na versão portuguesa, mudando de direção e navegando para ocidente para ser depositado na Igreja do Corvo, próximo de Sagres, no Al-Gharb sarraceno.
A esta região estava associado um carácter sagrado desde pelo menos fontes romanas do séc. VI a. C. que referem a ponta de Sagres como sacra Saturni. Estrabão, geógrafo grego que viveu entre 64 a. C. e 24 d. C., refere-se à mesma região como o Promontório Sagrado. A tal designação talvez não seja estranha a enorme concentração de menires da região.